quinta-feira, 19 de março de 2015
segunda-feira, 2 de março de 2015
Sinto-me privilegiado...
Olá a todos,
Gostaria de partilhar convosco, a minha experiência de
ontem!
Pouco depois de chegar a Benavente, decidi “parasitar” a
roda de um ciclista que por ali passeava. Para um leigo na matéria, informo que
esta expressão “ir na roda”, quer dizer: seguir confortavelmente no seu encalce,
aproveitando a revessa e o cone de aspiração, eh, eh, eh…
A dada altura decidi dar o meu contributo e passei para a
frente para “puxar” um pouco, cooperando com o Sr. Ciclista, não fosse ele
ficar zangado comigo. Sim, nestas coisas do ciclismo, por mais amador que ele seja,
existe solidariedade, mesmo entre desconhecidos!
Quando ultrapassei o meu companheiro de viagem, cumprimentei-o
trocando breves palavras de circunstância, e para meu espanto, o senhor
apresentava a figura de um avozinho de cabelos brancos. Quando digo avozinho,
não estou a exagerar, pois a sua face apresentava as rugas de quem já muito
viveu!
Pouco depois, foi a vez do “avô” voltar para a frente e
começar a “puxar”! O vento era forte, e parecia estar sempre de frente, e isso
meus amigos, é o maior pesadelo de um ciclista, na minha opinião muito pior do que
a chuva e muito pior do que o calor.
Aparentemente, para o avozinho, o vento não era obstáculo
pois aumentava o ritmo a pouco e pouco, facto que me obrigava a alterar o plano
inicial do passeio, do “modo racional”, para o “modo inconsciente”, eh, eh, eh…
Não que fosse uma desonra ser “humilhado” pelo avô, mas sim
por ser uma honra poder acompanhá-lo! A fatura iria ser pesada...
E lá fomos pedalando e cooperando a velocidades acima de
30Km/h, com ventos muitos fortes que nos fustigavam constantemente. Chegadas as
primeiras subidas (leia-se: pequenas elevações da paisagem, eh, eh, eh) o avozinho
fugia de mim, esperando mais à frente.
Estava de facto a levar uma valente coça, e agora não podia
desistir, perante tal exemplo de força e de vontade, proporcionado por aquela extraordinária
pessoa! Eu ainda tinha uma vaga esperança de que ele prosseguisse e me deixasse
para trás a “comer o seu pó”, mas não, era simpático e esperava por mim, eh,
eh, eh…
A muito custo fui tentando assumir o meu papel naquela
inesperada “sociedade” e gerindo o meu esforço continuei até final! Apenas nos
últimos 2KM decidi esgotar as poucas reservas que tinha, e dei tudo o que podia.
40 Km/h contra o vento, estava a ser muito violento, e na última “inclinação” à
entrada do Porto Alto, que mais parecia uma montanha, lá vinha eu na frente a
puxar no meu máximo pensando ter descolado do avô, e eis que continuo a escutar
o radio a pilhas que ele transportava consigo, sintonizado na rádio Renascença,
eh, eh, eh!
Recorri à força bruta para conseguir descolar um pouquinho do avô, que sorrindo me disse: - Epá,
ainda dá mais? – estaria a ser irónico? Eh, eh, eh…
Depois daquele “frenesim”, sinto a presença do avô a meu
lado, que, dando-me uma palmadinha nas costas exclamou: - Quantos conta o meu
amigo? – eu respondi: quase 44 – pois eu tenho 75, disse ele!
Que maravilha, meus amigos, chegar a esta idade com esta
força e este vigor.
Este senhor é fantástico e uma grande lição de vida para
aqueles que, com muito menos idade, têm dificuldade em levantar-se da cama de
manhã, abrir os olhitos, respirar (facto que envolve os complexos movimento de
expiração e inspiração) e que depois alcançam a grande proeza de colocar os pés
no chão, colocar um à frente do outro, numa acção vulgarmente conhecida por…caminhar,
eh, eh, eh!
É por tudo isto que eu ontem me senti um verdadeiro
privilegiado.
Por hoje é tudo, obrigado e bom dia!
Beijinhos e abraços,
Charbel
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