segunda-feira, 2 de março de 2015

Sinto-me privilegiado...


Olá a todos,

 

Gostaria de partilhar convosco, a minha experiência de ontem!

 Na vã tentativa de retomar a forma através dos treinos domingueiros em bicicleta, (ultimamente substituídos por running  e caminhadas), saí sozinho de Samora Correia por volta das 10H00, rumo a Benavente. A minha ideia era efectuar apenas cerca de 40KM a um ritmo moderado, visto que já não tinha preparação física para muito mais!

Pouco depois de chegar a Benavente, decidi “parasitar” a roda de um ciclista que por ali passeava. Para um leigo na matéria, informo que esta expressão “ir na roda”, quer dizer:  seguir confortavelmente no seu encalce, aproveitando a revessa e o cone de aspiração, eh, eh, eh…

A dada altura decidi dar o meu contributo e passei para a frente para “puxar” um pouco, cooperando com o Sr. Ciclista, não fosse ele ficar zangado comigo. Sim, nestas coisas do ciclismo, por mais amador que ele seja, existe solidariedade, mesmo entre desconhecidos!
 
Quando ultrapassei o meu companheiro de viagem, cumprimentei-o trocando breves palavras de circunstância, e para meu espanto, o senhor apresentava a figura de um avozinho de cabelos brancos. Quando digo avozinho, não estou a exagerar, pois a sua face apresentava as rugas de quem já muito viveu!

Pouco depois, foi a vez do “avô” voltar para a frente e começar a “puxar”! O vento era forte, e parecia estar sempre de frente, e isso meus amigos, é o maior pesadelo de um ciclista, na minha opinião muito pior do que a chuva e muito pior do que o calor.

Aparentemente, para o avozinho, o vento não era obstáculo pois aumentava o ritmo a pouco e pouco, facto que me obrigava a alterar o plano inicial do passeio, do “modo racional”, para o “modo inconsciente”, eh, eh, eh…
 
Não que fosse uma desonra ser “humilhado” pelo avô, mas sim por ser uma honra poder acompanhá-lo! A fatura iria ser pesada...

E lá fomos pedalando e cooperando a velocidades acima de 30Km/h, com ventos muitos fortes que nos fustigavam constantemente. Chegadas as primeiras subidas (leia-se: pequenas elevações da paisagem, eh, eh, eh) o avozinho fugia de mim, esperando mais à frente.

Estava de facto a levar uma valente coça, e agora não podia desistir, perante tal exemplo de força e de vontade, proporcionado por aquela extraordinária pessoa! Eu ainda tinha uma vaga esperança de que ele prosseguisse e me deixasse para trás a “comer o seu pó”, mas não, era simpático e esperava por mim, eh, eh, eh…

A muito custo fui tentando assumir o meu papel naquela inesperada “sociedade” e gerindo o meu esforço continuei até final! Apenas nos últimos 2KM decidi esgotar as poucas reservas que tinha, e dei tudo o que podia. 40 Km/h contra o vento, estava a ser muito violento, e na última “inclinação” à entrada do Porto Alto, que mais parecia uma montanha, lá vinha eu na frente a puxar no meu máximo pensando ter descolado do avô, e eis que continuo a escutar o radio a pilhas que ele transportava consigo, sintonizado na rádio Renascença, eh, eh, eh!

Recorri à força bruta para conseguir descolar um pouquinho do avô, que sorrindo me disse: - Epá, ainda dá mais? – estaria a ser irónico? Eh, eh, eh…

Depois daquele “frenesim”, sinto a presença do avô a meu lado, que, dando-me uma palmadinha nas costas exclamou: - Quantos conta o meu amigo? – eu respondi: quase 44 – pois eu tenho 75, disse ele!

Que maravilha, meus amigos, chegar a esta idade com esta força e este vigor.

Este senhor é fantástico e uma grande lição de vida para aqueles que, com muito menos idade, têm dificuldade em levantar-se da cama de manhã, abrir os olhitos, respirar (facto que envolve os complexos movimento de expiração e inspiração) e que depois alcançam a grande proeza de colocar os pés no chão, colocar um à frente do outro, numa acção vulgarmente conhecida por…caminhar, eh, eh, eh!

É por tudo isto que eu ontem me senti um verdadeiro privilegiado.

Por hoje é tudo, obrigado e bom dia!

 

Beijinhos e abraços,
 

Charbel