By Charbel
Olá a todos,
É deveras constrangedor praticar desporto ao ar livre em Samora Correia!
Apesar de estar "na moda", na nossa região pouco se faz para incentivar a sua prática.
Por um lado temos a Companhia das Lezírias, onde existem os melhores locais para a prática do BTT, mas cujo acesso é altamente condicionado, por outro temos as grandes várzeas onde se cultiva o arroz e cujos acessos também vão sendo vedados a pouco e pouco.
Vivemos cada vez mais espartilhados dentro da cidade. Quando não permitimos que nos imponham restrições de mobilidade, temos a sensação de estarmos a transgredir, como se a simples prática desportiva fosse crime!
Esta situação está a tornar-se intolerável, pois se a população desejar fazer uma caminhada, jogging, BTT ou outra actividade de lazer é literalmente "empurrada" para as artérias da cidade e estradas nacionais, com todo o risco que isso implica. Muitos começam simplesmente a frequentar outras paragens, facto que implica uma enorme logística, perda de tempo e dinheiro.
A própria autarquia, poderia ter aqui um papel mais activo no sentido de tentar sensibilizar os proprietários. A abertura de alguns acessos aos trilhos em nada prejudicaria as propriedades, até porque o perfil das pessoas que praticam desporto é por norma a favor da preservação da natureza.
Quando falamos na abertura de acessos, falamos apenas de pequenas entradas que permitissem a passagem de uma pessoa e da respectiva bicicleta, nem que tal acontecesse apenas aos Domingos de manhã.
A questão dos assaltos é frequentemente apontada como a principal razão para os proprietários encerrarem os acessos, mas bem vistos os prós e os contras, talvez fosse mais benéfico ter a presença de pessoas nos campos o que persuadiria os mal intencionados.
A foto seguinte ilustra o impensável! Há cerca de 3 meses um individuo resolveu colocar uma cerca no valado junto ao rio Almansor que dá acesso ao canal através da Sociedade das Silveiras, e colocou lá os seus cavalos! Legal ou não, este acto é eticamente reprovável visto que desde então ninguém mais pôde frequentar o local. Até à data nem a autarquia conseguiu resolver o problema.
Os responsáveis pouco fazem para dinamizar um património que deveria ser de todos nós e não apenas de uns quantos privilegiados. De que nos serve viver no campo se não tivermos acesso ao mesmo? Decididamente, parece que não merecemos o maravilhoso país que temos. Outros povos ficariam felizes se possuíssem um país e um clima como o nosso, mas o que fazemos é perder tempo com "mesquinhices".
O CBTTTL já fez ouvir a sua voz sobre este assunto através do seu Presidente Daniel Brites e do seu Vice-presidente (eu próprio), numa entrevista concedida ao jornal "O Mirante".
Há demasiada gente distraída, que não consegue vislumbrar o enorme potencial da nossa região.
Imaginemos se houvesse em Samora Correia, uma verdadeira escola de equitação virada para as massas, uma escola de Golf, um parque aquático, um parque temático ou de diversão, pistas para prática de modelismo, um parque de actividades radicais, desportos náuticos, enfim existe espaço mais do que suficiente para se produzirem as mais diversas actividades lúdicas, mas talvez falte o mais importante, vontade para trabalhar mais activamente no sentido de criarem condições para se atraírem potenciais investidores. É mais fácil proibir!
Gostaria de evocar um feito notável que aconteceu na década de 80, quando por iniciativa do mítico Prof. Reis Vaz e do Sr. António Brardo, ambos ilustres cidadãos com provas dadas em iniciativas várias em prol da população de Samora Correia, "meteram" mãos-à-obra e juntamente com os responsáveis da Companhia das Lezírias de então e creio que com a colaboração da CMB, construíram um fabuloso circuito de manutenção no eucaliptal situado no lado oposto ao Belo Jardim. Foi um empreendimento muito à frente do seu tempo, que permitiu incutir uma cultura desportiva em muitos cidadãos. Eu próprio em tenra idade tive o privilégio de frequentar aquela agradável infra-estrutura. Infelizmente eram tempos de muita ignorância e falta de cultura que levaram à sua total vandalização sem que as autoridades competentes se preocupassem com a sua manutenção.
Irei relatar apenas mais um episódio que aconteceu no início da década de 80 e que caracteriza a "nossa" mentalidade. Nos meus tempos de criança, pairava a eterna promessa da construção de um parque infantil e de um ringue no Bairro da Esteveira, mas tal não passava de uma promessa. Íamos crescendo e nada acontecia, até que a pequenada farta de esperar, reuniu esforços e durante todo o verão efectuou um peditório aos vizinhos, vendia refrescos, etc. O que é certo é que os tostões chegaram para contratar os serviços do Sr."João da Emília", que possuía um tractor que nos iria permitir alisar um terreno que um conhecido construtor, nos autorizara a utilizar para construirmos o nosso próprio campo de futebol.
Um grupo de crianças conseguia construir o seu próprio sonho. Nesse Verão todos participámos na limpeza do terreno e na construção das balizas, sentados no arado do tractor, fazíamos peso para alisar o terreno mais rapidamente. Tratou-se de um feito enorme, que nos deixou tão contentes como orgulhosos. E agora perguntam vocês: - e o que aconteceu a seguir? - Eu respondo: - o senhor construtor, proprietário do terreno, depois deste estar limpo e terraplanado, construiu mais casas em cima do nosso querido campo de futebol!
Obrigado e bom dia!
Grande abraço,
Paulo Charbel